domingo, 20 de fevereiro de 2011

Seres enciclopédicos e a oportunidade de ficar calada

 Às vezes eu me pergunto se eu é que sou muito desinformada, ou se algumas pessoas detêm informações demais – e isso se torna insuportável. Não estou falando necessariamente de qualidade de informações, mas de quantidade de informações.

Apresentou-se a mim uma pessoa que eu nunca tinha visto antes. Ele, um homem de cerca de 55 ou 60 anos, aproximou-se sob o pretexto de perguntar se eu já havia me acostumado com o netbook - “esse negocinho aí” -, que eu estava usando, enquanto tomava café da manhã numa confeitaria. Me perguntou qual era minha profissão (sempre respondo “jornalista”, mesmo estando fora do mercado há anos) e despediu-se depois de cerca de 30 minutos em que falou, falou, falou.

Falou de assuntos variados, como a riqueza da ex-união soviética e da Rússia, que hoje, segundo ele, sustenta a Europa com seu petróleo e seu gás. Falou que o Ceará já tem VLT em dois municípios do interior e das conspirações contra Ciro Gomes - “como você não sabe, sendo jornalista?”. Mas, antes que eu respondesse, emendava com ciclos e visitações enciclopédicas, como as culpas do Brizola, os desvios de Cuba, a safadeza do Chavez, o desemprego na Espanha, a bolha imobiliária em Brasília, as lanchas à diesel à gasolina, eleições, ficha limpa, o fim da reeleição, a tecnologia ching-ling, os milhões do Maluf, a cidadania da dona Marisa, o comércio no futebol, passado e destino do Collor, refinarias, governo militar e uma infinidade de outras coisas (acredite, ouvi mais nomes da história recente brasileira do que em três capítulos de um livro). Abaixando o tom da voz, confidenciou segredos que nem entendi.

O diálogo terminou com um “Prazer. Desculpe aí, tomar seu tempo”, seguido de um educado “Magina...Prazer.” (essas horas, eu costumo ser uma lady).

Pois é... Fiquei com aquela cara de “ahn? que é que foi, mesmo?”. Essa pessoa, em seu monólogo a dois, me deixou por mais alguns minutos a sós com o meu “negocinho” aqui. E fiquei sem ter palavras pra descrever o que tinha sido aquele furacão de informações. Houve um momento em que pensei que alguém podia estar nos filmando, e minha cara de tolerância absoluta – eu, sentada; ele, em pé. Eu, aflita; ele, empolgado. E então, talvez aquilo fosse uma pegadinha. Sim, porque, pensando bem, aquele personagem tinha uma cara de humorista, um tipo meio Juca Chaves, sei lá. Depois, eu me veria na televisão ou no youtube e seria alvo de chacota, por estar benevolentemente suportando aquela pessoa verborrágica e inconveniente, falando sem parar sobre coisas completamente diferentes, como que para testar minha própria cara-de-pau de dar a entender que aquilo era compreensível pra mim. Pensei mesmo que aquele fosse um cara meio carente que, supondo que eu fosse uma intelectual – pudera, eu estava às 8h40 da manhã de um domingo numa confeitaria, sozinha, de óculos escuros e olhando fixamente para um computador minúsculo (ah, ele chegou a perguntar se eu trabalhava na Globo News, que tal?) – resolveu bater um papo-cabeça. Por fim, talvez eu estivesse sendo uma chata, e quele fosse só um senhor gente boa que queria bater um papo. Acontece que ele demorou um tempo pra perceber que, como interlocutora, eu era uma ótima navegante.

Ainda bem que ele não pediu pra sentar. Porque aí minha veia “Di” iria pelos ares.

Mas, enquanto minha amiga não chegava para o encontro marcado naquela bela e ensolarada manhã de domingo, aquilo tudo me fez lembrar meu pai me dizendo que eu e ele éramos muito diferentes, principalmente por uma coisa. Meu pai me disse que ele pensava demais antes de falar, e acabava não falando. Isso era ruim. Já eu, não pensava nada antes de falar, por isso acabava às vezes falando besteira... Isso não era bom. Portanto, melhor assim. Talvez tenha aprendido com meu pai. Antes não falar tanto, e ganhar a oportunidade de ficar calada.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um jeito mais positivo

Acabo de ver a peça “Quanto tempo da vida eu levo para ser feliz”. Em primeiro lugar, interessante, vale a pena assistir. Estará em cartaz no CCBB de Brasília (DF) todos os fins de semana até o final de fevereiro. Texto legal, atores bons, recursos muito interessantes, história que prende. Muito bom. Recomendo.

Recomendo, inclusive (não principalmente) porque faz bem consumir esse tipo de cultura. Ir ao teatro, ver pessoas diferentes, com mais originalidade, para falar do mínimo, ao se vestir e se expressar do que normalmente se vê no shopping, por exemplo...

Só um parêntese. Por falar nisso, ontem comentava sobre a semelhança das mulheres e homens nesses ambientes típicos de paquera. Cheguei a pensar se não seria mais difícil encontrar alguém numa balada hoje do que antes, sei lá, há uns dez anos, quando eu também estava no páreo (atualmente vivo a minha conquista). Explico o porquê. É que hoje a maior parte das mulheres que não estão fora do padrão (refiro-me àquelas nem gordas nem magras, nem altas nem baixas, nem lindíssimas nem feias, ou seja, as mulheres medianas), costumam ter cabelos de tons, cortes e penteados praticamente iguais; usam modelitos parecidos, bijous e acessórios idem. O mesmo vale para os meninos. No final, fica parecendo que encontrar um bom par é mais questão de sorte do que de diferencial, já que a primeira impressão normalmente é aquela que faz alguém se aventurar nessa busca...

Bom, voltando ao teatro. Pois é, depois de deixar claro que curti a peça, quero falar sobre a minha reflexão. E a resposta está bem arrematada na música que encerra a apresentação: “Você vezes vocês dá quanto?”, ou qualquer coisa assim. Ou seja, você é um inteiro, você são frações, ou você são muitos? De qualquer maneira, a conclusão para onde a peça aponta, e eu concordo com ela, é: o maior evento da sua vida é sua própria existência, e ela deve ser conduzida com carinho e auto-apreço. Assim, também pela mensagem (além do programa, do passeio, do público, dos atores, do texto e dos recursos audio-visuais), a peça foi super legal.

Mas esperava algo diferente.

Esperava que a mesma mensagem fosse apresentada de maneira positiva. Outra abordagem. Esperava que – ao invés de mostrar maneiras como se pode perder o tempo que se deveria ou poderia estar investindo em ser feliz – a peça retratasse maneiras de bem aproveitar o tempo, com dicas de como se tornar mais pragmático no dever de ser mais feliz. Não quero dizer que dessa maneira o espetáculo ficasse melhor. É que meu astral hoje estava mais para saber como fazer do que como não fazer.

Ainda tenho o que pensar sobre o tema. E você? Vezes você, quando dá?