domingo, 23 de janeiro de 2011

Retorno de Saturno

Entendo de astrologia o suficiente para saber que sou libriana, que o símbolo do meu signo é uma balança, e que talvez por isso eu seja realmente uma pessoa equilibrada, de fácil convivência, mas também um pouco indecisa, meio lá meio cá... Na adolescência, costumava ler as previsões do zodíaco pra minha semana. Dependendo da fase hormonal e afetiva, até achava que aquilo tinha sido escrito especialmente pra mim. Hoje, dificilmente – a menos que já tenha folheado toda a revista ou jornal na antessala de um consultório médico e ainda esteja longe da minha vez – invisto (melhor do que dizer”perco”) meu tempo nesse tipo de leitura.

Às vésperas dos 30 – 28 ou 29 anos –...
...Eis que um incrível fenômeno astrológico põe à prova todo o meu ceticismo e ingratidão com as precisas previsões do passado.

Nunca tinha tido problema com a chegada dos trinta. Aos 28, fui à dermatologista e pedi que ela me passasse o que fosse necessário pra aumentar minhas chances de chegar à maturidade dignamente (em termos estéticos, é claro). Falei do rosto, do pescoço, das rugas dos olhos, da pele do corpo. Tudo. Comecei minha incursão ao mundo dos cosméticos. Normal...

Aos 29, quis ter um corpo mais legal e acreditava que começar a malhar antes dos trinta era melhor do que não começar a malhar. Foi um ano incrível. Em oito meses de musculação, três a quatro vezes por semana (1h30 por dia), troquei três quilos de gordura por três quilos de massa muscular! Massa!!! Muuuito bom!

Mas alguma coisa estava descompassada. Um tal de querer refletir demais, pensar demais, relembrar coisas demais... Umas nostalgias inconvenientes. Vontade de recuperar coisas, de criar outras, de escrever um livro, de viajar o mundo, de rever valores, conceitos, certezas e dúvidas. Desejo de me reinventar. Vontade de preferir outras cores, de pensar coisas secretas. “Hummm... Isso está estranho...”, pensei. Pôxa, era apenas mais um ano. E estava tudo bem. Eu não precisava revisitar todas as minhas convicções, revisar todos os meus escritos, criticar todas as minhas falhas, corrigir todos os meus erros. Ser uma pessoa melhor, mais ativa, mais livre, mais conectada, mais gostosa, mais autêntica – tudo isso amanhã.

Mas precisava. Sensação estranha. E intensa.

Buscando freneticamente na internet sobre esses sintomas pré-balzaquianos (o clássico de Honoré de Balzaq dedicado às jovens senhoras – agora como eu – tem que ser um post a parte), li uma declaração da Carolina Dieckman onde ela falava sobre um renascimento, um recomeço na fase dos trinta. Ela falou sobre o Retorno de Saturno.

Continuei fuçando na internet. Queria descobrir um livro que falasse sobre isso. Uma dessas escritoras americanas, embasbacada com o poder da experiência pessoal, poderia ter resolvido viajar o mundo em busca de fatores místicos, antropológicos, históricos e culturais sobre o tal Retorno de Saturno. Em vão. Ninguém. Só umas coisinhas avulsas, que repetiam mais ou menos a mesma coisa. Vou resumir, nas minhas palavras.

A fase recebe o nome de Retorno de Saturno porque, teoricamente (resquícios do ceticismo), o ciclo do planeta Saturno no sistema solar (não sei bem se em torno do sol, ou em relação a todo o sistema solar), leva algo em torno de trinta anos (entre 28 e 31 anos, eu acho). Então, no dia e hora em que cada um de nós nascemos, Saturno (assim como todos os planetas) está numa determinada posição. Posição essa que vai se repetir em torno de 30 anos, quando o planeta Saturno voltará a estar na mesma posição que assumiu no momento de seu nascimento. Acontece que o poder de Saturno sobre nossas vidas seria tal que o fato de ele remontar o cenário astrológico do momento do nosso nascimento nos influenciaria de forma a termos uma vontade incrível de “renascer”, revendo nossos erros e acertos, somando nossos desejos, acrescentando nossos aprendizados e querendo com todas as forças transformar as nossas vidas, de maneira a modificarmos muitas coisas e começarmos esse novo ciclo da maneira mais adequada à nossa felicidade. E, ainda na teoria, o Universo conspiraria para isso.

Portanto, isso acontecerá mais ou menos a cada 30 anos em nossas vidas. Mas essa primeira experiência é sempre muito marcante, porque normalmente coincidirá com uma fase de conquistas, busca por realização profissional, pessoal, amorosa, familiar.

Para mim, o Retorno de Saturno possibilitou muitas releituras. Busco não esquecer das coisas que me propus naquela fase fértil de inspiração e desejos. Isso porque Saturno segue seu caminho, e nós temos que seguir os nossos. E, também nesse caso, o tempo não pàra para esperar que tornemos possíveis todas as mudanças almejadas. Então, temos que manter acesa a chama, para buscar essa re-formatação pessoal profunda ao longo do tempo e das oportunidades (porque, vamos combinar, nem tudo é só vontade).

Ah, continuo não lendo as previsões do zodíaco, mas ter vivido a experiência transformadora do Retorno de Saturno me recolocou em respeitosa posição em relação à astrologia e ao poder do Universo. Talvez um dia eu viva aquela empreitada editorial em busca da verdade sobre esse fenômeno balzaquianom, saturniano, humano... Quem sabe.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Este ano, ela quer fazer diferente

Há alguns anos, na véspera da noite de Ano Novo, ela faz uma lista das coisas que quer realizar nos próximos 12 meses. Há anos, entre esses planos, está o de estudar inglês, ler mais, cuidar melhor de si e fazer coisas realmente legais. Mas, chegando ao final de 2010, acordou melancólica. Talvez tenha achado que não era justo consigo repetir os mesmos planos (que se estão na lista mais uma vez, é porque não foram realizados ou, pelo menos, não a contento), e experimentar uma sensação de desapontamento.

Ok, 2010 não foi perfeitamente executado, segundo seus planos. Mas foi plenamente vivido. Foi um ano de muitas coisas incrivelmente boas, incrivelmente impactantes, incrivelmente chocantes. Incrível. Verdadeiro. Autentico. Surpreendente. Zero inglês, pouca malhação, insuficientes momentos só pra ela. Mas foi um ano que a mudou, que mexeu com ela.

Então, neste momento, ela quis falar do que aconteceu. Do que não estava no script. Da vida como ela foi, como ela é. Sem roteiros, ou quase nenhum, mas com muitos cenários, cheio de fotografia, rico em trilhas sonoras, intenso em cheiros, risos e lágrimas. Se tivesse poder de adivinhar, teria construído sua lista de desejos assim:

1. Trabalho
Retomaria o trabalho, de volta ao batente. Adeus, dias preenchidos em afazeres domésticos, contas a pagar (da casa), maternidade em tempo integral.

2. Viagem
Pois é, passou o tempo planejando e executando (de última hora, será que poderia entrar com data retroativa na lista do final do ano anterior?) sua primeira viagem internacional. Su Buenos Aires querido...

2. Sexo...
Sem palavras. Ou melhor, duas palavras: que delícia!

3. Valorizar a vida
De volta à casa, começou a trabalhar. Foi mais ou menos nessa época que soube da morte de um personagem querido da sua vida. Lembra dele de vez em quando, vem à sua cabeça seu sorriso, a intensidade e até mesmo descaso como ele vivia a vida. De repente, era como se fizesse algum sentido a forma descomprometida como ele aproveitava tudo, sem se preocupar muito com o futuro... Mas sabia ser feliz. Doeu muito. A fez pensar em tantas coisas, na importância de viver o dia presente, de valorizar o amor, a alegria, a convivência. De dizermos que amamos, além de amarmos. Nunca esqueceria a mensagem do sorriso feliz de seus olhos apertados. Que Deus o tenha, pensava. Ela nunca soube lidar com perdas. Felizmente, não havia tido muitas experiências assim, nem queria tê-las.

4. Um amor breve e intenso
O ano seguia estável, quando seu corpo começou a dar sinais de alerta: hormônios completamente desregulados. Teve que dar um tempo no anticoncepcional. Foi um grande momento, quando o prazer estava ao alcance ao primeiro chamado. Espetáculo. Sem que houvesse planejado, liberado ou mesmo desconfiando da possibilidade, descobriu que estava grávida. Viveu esse amor consciente por 13 dias. Perdeu o bebê. Minúsculo em tamanho, tão grande em suas vidas, dela e de sua família. Deixou um buraco enorme. Experimentou uma dor abafada, sem culpados, sem saída. Esteve em luto até entender que tinha vivido uma história de amor, com um ser divino, que quis estar com eles e trazê-los algo de bom: a convicção de que poderíam crescer.

5. Planos para o velho mundo
Focou no trabalho, dedicou-se à família. Ganhou o reconhecimento dos meus colegas de trabalho, deu alguns passos importantes. E quando parecia que o ano correria na inércia, até as portas de 2011, acessaram o passaporte para a realização de outro sonho. A viagem à Europa agora tinha data marcada – um ponto certo, caso ela tivesse uma lista de planos.

6. Rotina e realização
E como a vida não é feita só de grandes acontecimentos, no meio disso tudo teve os trimestres difíceis no doutorado do marido, a primeira apresentação de balé da filha, comprou um passarinho, viajou. Leu um livro de 700 páginas, entre poucos outros. Viu sua sereia ir ao encontro dos sonhados mergulhos e às primeiras aulas de natação, com o pai.

7. Superação
Ela não fala mais “agoLa”, e o cebolinha se despediu com a palavra “queRo”. Sua grande amiga conseguiu engravidar, e ela é a madrinha. Teve tristezas e alegrias, desentendimentos e perdões. Forteleceu certezas, acrescentou desejos, somou.

8. Mergulhar na vida
E, como teve a sorte de despertar pro imenso barato de TUDO isso no antepenúltimo dia de 2010, começou a fazer abdominais e alongamento e também a ler outro livro, ainda no ANO PASSADO. AQUELE GRANDE ANO.

MORAL DA HISTÓRIA:
Planejar é legal, mas viver é melhor ainda. O bom é que uma coisa não exclui a outra. Acontece que a vida sobressai. Por isso, se ainda não o fizemos, vamos bater na porta de 2011 e vivê-lo. Fazer e dar o melhor de nós.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ter um blog

Sempre gostei de escrever. E tudo começou com os diários, as agendas secretas. Hoje, sou mais um que quer escrever para o mundo, protegida pelo anonimato da massa. Curioso. Mas verdadeiro. Há coisas que quero dividir, outras que quero deflagrar.

Na virada deste ano, pensei que, este ano - nem um ano mais - sairia o meu repetido plano anual de escrever mais. Preferencialmente, escrever mais e melhor. Mas começar. Eis-me aqui. Tenho um blog! Com a cara da minha vida e das coisas que eu sei e que eu não sei, mas sobre as quais penso.

Bem vindo ao meu anônimo mundo público. Público e otimista. Porque me agrada pensar que o melhor da vida é o que é e o que está por vir!